O livro A Tirania do Mérito mostra que mesmo que as pessoas tivessem as mesmíssimas oportunidades, elas não evoluiriam de forma igual. Temos as competências natas, as afeições, os desgostos. Cada pessoa é como uma impressão digital: diferentes umas das outras.
O discurso de “você pode, só depende de você” mais causa frustrações e revoltas do que realização pessoal. Muitas vezes, por mais que você tente, as portas se fecham. Um ou outro consegue furar essa bolha. E não é opinião pessoal. São estudos científicos pelo mundo que provam isso.
A possibilidade de um homem branco, nascido em família rica de São Paulo e com todas as oportunidades ao seu dispor tem muito mais chances de ascender socialmente do que uma mulher negra, pobre, nascida no interior do Rio Grande do Norte.
O estudo foi realizado por pesquisadores ligados à UFPE e Universidade de Bocconi, na Itália, e mostra que na região metropolitana de Belém (PA), a chance de um filho de uma família com renda abaixo da mediana brasileira se manter na mesma faixa ao chegar à idade adulta é de 63%, quase seis vezes maior que a de região metropolitana de Florianópolis (SC), onde esse número cai para 11,2%.
A probabilidade dos nascidos entre os 20% mais pobres se manterem na mesma condição ao chegar à idade adulta é de 46,1%. Já a chance de ser bem sucedida a ponto de ascender ao topo da pirâmide de renda brasileira é de apenas 2,5%. Na Suécia esse número sobe para 16% e na Itália 11%. Pelas pistas iniciais, educação é a principal chave da mobilidade. Porém, infraestrutura, economia e segurança pública também desempenham um papel fundamental.
O estudo também reforça as diferenças segundo gênero e etnia. Mulheres tendem a alcançar 14 degraus a menos que homens. Pessoas brancas, por sua vez, alcançam 7 degraus a mais que não-brancos da mesma faixa de renda.
*Com informações do jornal Valor Econômico.